Os influenciadores e o poder da inclusão – para o bem e para o mal
Em meio a Copa e uma avalanche de notícias, memes e polêmicas, pudemos perceber que a velocidade de resposta do mundo online para o offline está cada vez mais instantânea. Isso vale tanto para o Neymar caindo, como para youtuber fazendo besteira. Cocielo? Também, mas estamos aqui pra falar do Whindersson Nunes.
Antes de dar seguimento ao texto, queremos deixar claro que esse não é um comparativo relacionado as causas em si, e sim sobre a sua repercussão. Preconceito é um assunto profundo que não se “resolve” num texto. Esse post é apenas uma análise e convite à reflexão focado no caso do Whindersson com a Libras. Não estamos analisando o Cocielo. Preconceito é crime. Racismo é crime. As pessoas que tem atitudes racistas devem ser punidas sim.
Não sabe do que estamos falando? Entenda o caso:
Sábado, dia 30.
Comunidade Surda está decepcionada e chateada com este acontecimento que menospreza a Língua Brasileira de Sinais!!! 🙁 🙁 ➡ Qual sua opinião a respeito???
Posted by Libras Avante on Monday, July 2, 2018
Descrição resumida do vídeo: no palco do Caldeirão do Huck, Whindersson e Luciano estão lado a lado e Whindersson faz gestos aleatórios enquanto Luciano fala.
Em um quadro patrocinado pela Toddy, o youtuber Whindersson Nunes fez uma apresentação, uma espécie de stand-up com comentários sobre generalidades, conversando com Luciano Huck. No fim do quadro, ao perceber que pelo enquadramento da câmera ficava bem ao lado de Luciano, Whindersson começou a gesticular fingindo interpretar o apresentador.
Justamente neste dia, impulsionado pela Copa, o Caldeirão do Huck teve a maior audiência desde 2010. E lembrando (para quem não conhece) que Whindersson é o cara que tem o segundo maior canal do youtube com 30MM de assinantes. Se estamos falando de cobertura, esses dois juntos falam praticamente para o Brasil todo.
Olha o tamanho da responsabilidade. Ou no caso, irresponsabilidade.
Imaginem vocês então a quantas pessoas não chegou esta informação com abordagem completamente errada, fazendo deboche de algo que foi (e ainda é) uma luta diária na vida dos surdos usuários de libras: o desconhecimento da Libras por parte da sociedade.
Domingo, dia 1.
A comunidade surda começa a se manifestar, principalmente via Instagram e Youtube, chamando a atenção, criticando o que até então o youtuber achava que era “só uma brincadeira”. Com razão, já que isso reforça uma desqualificação; desvalorização não só na língua como idioma, como também da profissão dos intérpretes.
O vídeo do Canal Visurdo (abaixo) resume bem o posicionamento da comunidade e inclusive mostra outros exemplos de situações onde rolaram um FAKE LIBRAS, seja por “piada” ou por má índole de seres humanos horríveis (eventos oficiais, tribunal, etc).
Percebem como é muito ruim espalhar esse tipo de fingimento? Ao invés de disseminar belas traduções, são esses os “profissionais” que viralizam e enfraquecem a luta da comunidade. Pode ser que pessoas com pouco ou nenhum contato com língua de sinais guardem somente essa informação ou essa lembrança relacionada ao tema e numa próxima vez que se depararem com um intérprete podem pensar “ah, é tudo mentira”.
Segunda, dia 2.
Após receber todas as mensagens da comunidade surda e do público em geral – inclusive de outros influenciadores e youtubers como Kitana, Gabriel Isaac, Nathalia Silva e mesmo a Mari Torquatto – que se identificou ou sensibilizou com a causa -, Whindersson então gravou uma série de vídeos no stories explicando que realmente não tinha conhecimento da seriedade do caso.
Descrição resumida do vídeo: Whindersson está com uma camiseta amarela e grava o vídeo com o celular enquanto vai andando por sua casa.
Terça, dia 3.
Felizmente, após ele ter falado que estava aberto a aprender Libras, certamente foi abordado por muitas pessoas e a Luana já tratou de começar a ensiná-lo. E vale reforçar que é ótimo que ele tenha aprendido/esteja aprendendo com uma surda. Foi com o vídeo a seguir que ele mostrou para os seguidores que estava se esforçando para aprender.
Descrição resumida do vídeo: Whindersson está de frente pra câmera com um moleton vinho e fala sinalizando “Bom dia, que Deus abençôe vocês”
Quinta, dia 5.
No dia seguinte, ao anunciar um vídeo novo, Whindersson começou sinalizando um “boa tarde” e agradecendo a Luana por estar ensinando Libras a ele.
Descrição resumida do vídeo: Whindersson está de frente pra câmera, falando sobre seu novo vídeo e ele sinaliza em libras “Boa Tarde”
Há males que vem para bem? – Desconhecimento x Desinteresse
Apesar dos pesares, esse foi primeiro contato de Whindersson com o universo da acessibilidade. E, cá entre nós, que bom que ele aconteceu. O meu primeiro contato foi num museu com uma representação tátil de uma pintura – que já contei aqui – enquanto o dele foi errando ao vivo na Globo. Mas não podemos deixar de encarar o fato como uma oportunidade de retorno positivo, que vai depender inteiramente de como ele levará isso daqui pra frente.
No seu primeiro vídeo após o ocorrido, que coincidentemente (ou não) era sobre outra lígua, ele além de contar sobre o caso do Huck colocou alguns sinais na sua fala, incluindo a apresentação padrão do canal “Eai galerinha que assiste meu canal, tudo bom com vocês?” com o sinal de “assistir” e “bom”.
Se isso vai continuar nos próximos vídeos? Temos que esperar pra ver.
Pode ser que ele desencane? Sim.
Pode ser que ele continue e transforme seu canal e a percepção das pessoas perante a libras? Sim.
Esse vai ser o ponto crucial para entendermos a diferença entre o desconhecimento e o desinteresse, que acontece muitas vezes com marcas e empresas. Não se envolver por falta de contato, e não se envolver por falta de visão, mesmo após ter o contato.
O que nos leva também a outro questionamento. Se por um lado, as marcas querem se distanciar de influenciadores que promovem atitudes preconceituosas, como elas reagirão àqueles que estão promovendo a inclusão?
O que você acha sobre o assunto? Deixe nos comentários!
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