O grande glossário da acessibilidade e inclusão – o que dizer e o que não dizer
Existem expressões e brincadeiras consideradas inofensivas que são usadas e feitas há tanto tempo que não se lembra como ou porquê surgiram. Mas muitas delas, ao invés de serem inofensivas de fato, apenas propagam e reforçam uma série de preconceitos, como o racismo, a lgbtquia+fobia e o capacitismo.
Capacitismo é toda forma de preconceito e discriminação contra pessoas com deficiência, subestibando a capacidade da pessoa com base na sua deficiência. Segundo Ivan Baron, influenciador, pessoa com deficiência e escritor do livro Guia Anti Capacitista, existem três tipos de capacitismo:
- Capacitismo Médico: Se refere ao uso equivocado de palavras como “doença” e “doente” para se referir à deficiência ou à pessoa com deficiência.
- Capacitismo Recreativo: Se refere àquelas brincadeiras de mau gosto envolvendo deficiências com o objetivo de “divertir as pessoas”. O tipo de capacitismo mais comum na sociedade.
- Capacitismo Institucional: Se refere tanto à falta de acessibilidade nos ambientes quanto à contratação de pessoas com deficiência por organizações que só querem atingir a cota e não as tratam com equidade em relação aos colaboradores sem deficiência.
A Lei Brasileira de Inclusão (LBI), além de garantir os direitos das pessoas com deficiência no Brasil, pune pessoas e organizações que desrespeitam e/ou agridem física, mental ou emocionalmente pessoas com deficiência. Mas, além de punição, é preciso que haja mudança de pensamento e de vocabulário.
Pensando nisso, a Sondery criou O grande glossário da acessibilidade e inclusão – o que dizer e o que não dizer, conteúdo que costumamos compartilhar em nossas palestras e treinamentos, para incentivar mais empresas e agências a utilizarem expressões adequadas não só no seu conteúdo externo como também internamente, em conversas e reuniões.
Glossário de termos de inclusão e acessibilidade
Não use estas palavras | Use estas palavras |
Anão | Pessoa com Nanismo |
Anjo, Aleijado, Aleijadinho | Pessoa com deficiência |
Braço curto | Pessoa sem proatividade |
Capenga | [depende do contexto] |
Cadeira elétrica | Cadeira motorizada |
Criança especial , excepcional | Criança com deficiência intelectual |
Ceguinho | Pessoa com deficiência visual, cego ou baixa visão (caso você tenha essa informação) |
Dar uma de joão sem braço | Pessoa sem proatividade |
Dar uma mancada | [depende do contexto] |
Defeituoso, deformado, doente, doentinho, doente mental | Pessoa com deficiência |
Escola normal | Escola regular |
Guerreiro (a) | [depende do contexto] |
Incapacitado, Inválido, Inútil, Idiota | Pessoa com deficiência |
Língua dos sinais, linguagem de sinais | Língua de Sinais ou Libras (sempre com L maiúsculo) |
Maneta | Pessoa com deficiência física |
Manco | Pessoa com deficiência física |
Mongol ou mongolóide | Pessoa com síndrome de Down |
Mudinho | Se estiver se referindo a uma pessoa surda, usar pessoa surda ou pessoa com deficiência auditiva. |
Normal | Pessoa sem deficiência |
Necessidades especiais | Pessoa com deficiência |
Perneta | Pessoa com deficiência física |
Pessoa normal | Pessoa sem deficiência |
Portador de deficiência ou Portador de necessidades especiais | Pessoa com deficiência |
Retardado mental | Pessoa com deficiência |
Surdo-mudo | Surdo, pessoa surda, pessoa com deficiência auditiva |
Por que não usar estes termos
“Portador de deficiência”, “Portador de necessidades especiais”: É errado porque ambos dão a entender que a deficiência é algo que se pode carregar ou não de acordo com a vontade da pessoa.
O que usar para substituir: Pessoa com deficiência.
“Aleijado”, “Perneta”, “Manco”, “Maneta”: É errado porque reforça a ideia de que ter uma deficiência é um defeito ou uma coisa ruim .
O que usar para substituir: Pessoa com deficiência, pessoa com deficiência física.
“Surdo-mudo”, “Mudinho”: É errado porque a surdez não causa nenhum prejuízo ao aparelho fonador. Uma pessoa com deficiência auditiva pode ser oralizada sem problema algum. Existem, sim, pessoas com deficiências múltiplas – duas ou mais deficiências ao mesmo tempo -, mas não significa que uma é causa da outra.
O que usar para substituir: Surdo, pessoa surda, pessoa com deficiência auditiva.
“Mongol”, “Mongoloide”, “Retardado mental”: É errado porque o termo é usado para ofender pessoas chamando-as de “idiotas”, “babacas” e dá a entender que deficiência intelectual é sinônimo de falta de inteligência.
O que usar para substituir: Pessoa com deficiência, pessoa com deficiência intelectual.
É importante também que pessoas com deficiência parem de ser chamadas de “coitadas” porque elas não são e não querem ser vistas como infelizes ou vítimas de sofrimento, e que a palavra “deficiência” pare de ser usada como sinônimo de “falta” (deficiência de vitamina, deficiência de nutrientes, etc) e antônimo de eficiência.
Falta de vitaminas ou nutrientes não é algo bom para o organismo. Quando se relaciona algo ruim com deficiência, mesmo inconscientemente, está sendo reafirmado que ter uma deficiência também é ruim. E isso não é verdade. Muito menos o oposto de eficiência. O contrário de eficiência é ineficiência.
Além de mudar o seu jeito de pensar e falar, converse sobre o assunto e estimule as pessoas ao seu redor a mudarem também.
A gente sabe que desconstruir preconceitos disfarçados de “brincadeiras” é difícil. Não é do dia para a noite que a gente vai acabar com algo que está enraizado no inconsciente da sociedade. Mas mostrar para todos que estes termos são ofensivos e que continuar a usá-los só propaga o preconceito contra as pessoas com deficiência é o primeiro passo.
Se surgir uma situação em que você fique em dúvida de como se dirigir a uma pessoa com deficiência, ao invés de usar um termo capacitista chame-a pelo nome, que não tem erro.
Recomendações de Leitura
- Guia Anti Capacitista – Ivan Baron
- Capacitismo: O mito da capacidade – Victor Di Marco
- Disfigured: On fairy tales, disability, and making space – Amanda Leduc
- Disability Visibility: first-person stories from the twenty-first century – Alice Wong