O consumidor com deficiência quer comprar!
A revista Universo da Inclusão entrevistou a Ana Clara Schneider, fundadora da Sondery, para uma matéria muito bacana que eles lançaram na edição de julho. O texto intitulado “Comprar eu posso, mas vocês não deixam” fala exatamente do assunto que a gente mais aborda aqui na Sondery: como as empresas estão ignorando as pessoas com deficiência enquanto consumidoras e deixando de atender uma grande parcela da população.
Você pode ler a matéria na íntegra no site da revista, mas separamos aqui alguns trechos que mostram as opiniões da Ana Clara sobre o assunto. Veja abaixo:
A barreira atitudinal é a mãe de todas as barreiras
Para Ana Clara Navarro Schneider, 29 anos, empreendedora, fundadora da Sondery Creative Accessibility, consultoria de acessibilidade com foco em consumo, a ‘mãe’ de todas as barreiras é a atitudinal. “No fim do dia, quem toma a decisão se a empresa será inclusiva e acessível é sempre uma pessoa. E ela, normalmente, é motivada pela falta de conhecimento, de dados que mostrem os benefícios da acessibilidade como estratégia de negócio e também pela falta de empatia, gerada pela ausência de contato com pessoas com deficiência”.
Para Ana Clara, outro problema atitudinal muito comum está relacionado ao tom de abordagem e comunicação com a pessoa com deficiência. “Na maioria das vezes é uma das três seguintes variações: infantilização, pena e/ou superação. Se utilizar uma voz fina e cantada, usando diminutivos para falar com um adulto sem deficiência não faz sentido algum, por que faria ao se dirigir a um adulto com deficiência? Tratá-lo como se fosse ‘café com leite’ em tudo, e perguntar se ele está ‘passeando’ pelo simples fato de estar na rua, são atitudes capacitistas que reforçam o estereótipo de pessoa com deficiência como incapaz”.
É preciso reclamar – e pedir por acessibilidade
Para Ana Clara Schneider, da Sondery, o estabelecimento ou a marca tem de ser informado de que o produto, serviço ou o atendimento não atingiu as expectativas, ou que foi ruim mesmo. “Pode ser que a empresa nunca tenha passado por essa situação e, a partir do momento que tem contato com a experiência e o depoimento do consumidor lesado, comece a agir para melhorar sua atuação”, pontua. “As ações podem ser escaláveis: num primeiro momento é interessante colocar uma reclamação formal para a ouvidoria da marca. Caso não tenha essa possibilidade ou não haja o contato, é possível utilizar do poder de propagação das redes sociais e divulgar o ocorrido em seu perfil pessoal ou no perfil da marca”.
Uma boa lei não faz todo o serviço
“Embora o Brasil seja um dos países com as melhores leis de inclusão, ainda sentimos muita resistência das empresas em cumprirem esta lei, mesmo sob pena de multa. Outros países são mais exemplares não pelas leis, mas pelas lutas estarem mais preparadas, os movimentos de pessoas com deficiência mais fortes e as militâncias mais incisivas.
O Reino Unido é um exemplo disso. Ainda nos anos 1970, já se falava de representatividade de pessoas com deficiência nas propagandas por lá. É uma pauta antiga, uma discussão que vem ganhando força há décadas, sendo que essa discussão específica de publicidade ainda é iniciante por aqui. Muito se fala de diversidade em comunicação hoje com outros recortes, como raça, gênero e orientação sexual, que já são mais conhecidos do meio publicitário. Mas a deficiência não está no mesmo nível de discussão, ainda”. Ana Clara Navarro Schneider, da Sondery – Creative Acessibility.