7 Mitos e Verdades sobre pessoas Autistas
O que vem a sua mente quando você lê a palavra “autismo”? Provavelmente você deve ter pensado em uma criança séria de uns 5 a 7 anos, do gênero masculino, brincando de forma isolada sem interagir com as pessoas ao redor. Acertei?
Se você pensou em algo próximo disso, saiba que essa é uma representação muito comum. Porém, é uma percepção equivocada baseada em estereótipos que acabam sendo muito reproduzidos. Mas não sinta culpa se você associou o autismo a essas características! Vamos te ajudar a repensar alguns mitos sobre o assunto nesse post.
Primeiro, é importante definir o autismo. Ele é uma condição de desenvolvimento neurológico e cognitivo que faz com que a pessoa apresente diferenças nas habilidades sociais, de comunicação e de interesse quando comparado com pessoas com desenvolvimento típico. Atenção, não é uma doença!
O nome “oficial”, de acordo com a literatura médica, é Transtorno do Espectro Autista (TEA). Mas as pessoas autistas têm tentado mudar essa nomenclatura para excluir a palavra “transtorno”, que acaba sendo muito forte e passa a ideia do autismo como um problema. Por isso, tem sido comum usar apenas “espectro autista”. O termo “espectro” é importante para mostrar que autismo se manifesta de forma bem diversificada e nenhuma pessoa autista é igual à outra. De modo geral, o autismo pode ser classificado em três níveis de suporte:
- Nível 1 – pouco suporte: pessoas que podem ter dificuldade para se comunicar, interagir e se organizar, mas conseguem ter um nível de autonomia e independência. Geralmente, autistas de nível 1 de suporte não apresentam comorbidade com a deficiência intelectual;
Nível 2 – precisa de suporte: pessoas que apresentam algumas dificuldades nas habilidades de comunicação, principalmente verbal e, com isso, podem precisar de suporte para conseguir se comunicar. Também apresentam maior dificuldade nas interações sociais e mais rigidez cognitiva;
Nível 3 – precisa de maior suporte: apresentam dificuldades mais graves na comunicação verbal e o suporte pode ser essencial para que elas consigam se comunicar. As habilidades sociais também são mais comprometidas e a rigidez cognitiva pode ser maior. Em alguns casos, há comorbidade com a deficiência intelectual.
As pessoas costumam chamar esses três níveis de leve, moderado e severo, mas essa não é uma forma correta! Afinal, ser nível 1 de suporte não significa ter características “leves”, pois a pessoa ainda pode precisar de suporte. E também é importante ressaltar que pessoas em um mesmo nível de suporte podem ter características bem diferentes.
Outras duas coisas que é importante você saber:
- Não existe mais “síndrome de Asperger”, que era considerado um autismo “leve”. Essa nomenclatura já caiu em desuso e não é usada nem mesmo mais na área médica. Além disso, o nome Asperger remete ao criador do termo, que era um médico nazista – ou seja, já está mais do que na hora de parar de falar dele por aí, né?
- Muitas pessoas autistas preferem o termo “autista” ao invés de “pessoa com autismo”, pois elas consideram que o autismo é uma parte inseparável delas, então elas não “têm autismo” elas “são autistas”. Mas isso varia de pessoa para pessoa, não é consenso.
Agora que você sabe um pouco mais sobre o assunto, vamos derrubar sete mitos muito comuns sobre o autismo.
Mito 1: “Autistas não têm empatia.”
Verdade: Autistas podem ter dificuldade em entender sentimentos e expressões faciais, mas isso não significa que não se preocupam com as outras pessoas e nem têm empatia. Há pessoas autistas que são altamente empáticas.
Mito 2: “Autistas são pessoas inocentes, puras e ingênuas.”
Verdade: Muitas pessoas autistas interpretam as coisas de forma literal e podem ter dificuldade em identificar se alguém está mentindo, mas isso não faz todas elas serem pessoas ingênuas ou que podem ser facilmente enganadas. Inclusive, autistas podem mentir como qualquer outra pessoa! Esse rótulo de pureza tem nome: capacitismo.
Mito 3: “Autistas se dão melhor nas áreas de exatas.”
Verdade: Ser uma pessoa mais objetiva, literal e lógica não faz com que a pessoa autista tenha automaticamente interesse nas áreas de exatas, como computação. Há pessoas autistas trabalhando nas áreas de comunicação, design, psicologia, artes, marketing e várias outras.
Mito 4: “Autistas vivem em mundo particular.”
Verdade: Autistas podem ter momentos em que ficam com grande atenção em uma tarefa (hiperfoco) e pode acabar não atendendo quando alguém a chama, mas isso não quer dizer que a pessoa está alheia ao mundo à sua volta ou que não entende as coisas que estão acontecendo.
Mito 5: Considerar pessoas autistas “gênios” ou achar que elas têm deficiência intelectual.
Verdade: Algumas pessoas autistas têm QIs mais altos do que outras pessoas e algumas têm níveis de QI dentro da média. A verdade é que algumas pessoas autistas também têm deficiência intelectual e outras não. Lembre-se: o autismo NÃO é uma deficiência intelectual. Algumas pessoas autistas podem falar e se comunicar verbalmente, outras não.
Mito 6: “Pessoas autistas são antissociais.”
Verdade: Autistas podem precisar de apoio nas habilidades sociais ou interagir de maneira diferente com o mundo ao seu redor, mas a maioria gosta de ter relacionamentos. As pessoas mostram suas dificuldades sociais de diferentes maneiras. Algumas pessoas autistas são quietas e tímidas ou evitam situações sociais, outras falam demais e têm dificuldades para manter uma conversação.
Mito 7: “Autismo é muito mais comum em homens do que em mulheres”
Verdade: O autismo parece ser mais comum em homens. Mas as mulheres são mais propensas a “mascarar” seu autismo desde a infância, aprendendo as habilidades para interagir com o mundo melhor do que os homens. Isso pode significar que muitas meninas e mulheres autistas recebem um diagnóstico muito mais tarde na vida do que os meninos.
Conclusão
Como você pode conferir nesse post, o autismo é uma condição muito diversificada e ainda há muitas percepções preconcebidas sobre o assunto que fazem com que as pessoas tenham uma imagem imprecisa do que é uma pessoa autista.
Para as pessoas autistas, o autismo é visto como uma identidade, uma diferença neurológica e até mesmo uma cultura, e não uma “doença” ou “transtorno”. Além disso, lembre-se: autistas crescem, trabalham, praticam esportes, fazem compras, se casam, têm filhos.
Espero que você tenha gostado deste conteúdo. Conta pra gente aqui nos comentários, qual dos mitos e verdades mais te surpreenderam?
Referências
Autistica. Autism myths and causes (artigo em inglês).
One Central Health, 2020. 10 Myths About Autism Spectrum Disorder (artigo em inglês).