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Sonderycast 03: Por que investir em acessibilidade?

Imagem com fundo branco e detalhes arredondados rosa, azul escuro e azul claro. Há o texto: "03 Por que investir em acessibilidade?
Imagem com fundo branco e detalhes arredondados rosa, azul escuro e azul claro. Há o texto: "03 Por que investir em acessibilidade?

 

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Rafael Duarte [Introdução]:
Este episódio do Sonderycast é mais do que apenas um podcast. É uma verdadeira aula, onde a fundadora da Sondery, Ana Clara Schneider, explica os termos e conceitos sobre as pessoas com deficiência, acessibilidade e inclusão, e costura com base em pesquisas, dados e estudos os motivos pelos quais investir em acessibilidade é mais do que um compromisso social, mas também uma estratégia de negócio para alcançar um público consumidor que a maioria das marcas está ignorando e excluindo. 

Ana Clara Schneirer:

Oi pessoal, tudo bem?

Eu sou a Ana Clara, da Sondery, e é uma honra estar aqui para receber vocês no início dessa caminhada. Que vai ter muita informação, muito material e muita troca sobre acessibilidade. Hoje eu vou falar um pouquinho sobre os conceitos bem básicos e daí a gente vai poder falar com mais profundidade de termos e vocabulário e algumas terminologias, então todo mundo parte da mesma página, combinado?

Se você não tem muito contato com o universo da pessoa com deficiência com o universo da acessibilidade, é muito importante entender exatamente esses detalhes de conceitos exatamente para não ter muita confusão. 

Tem pessoas que acham que a deficiência é algo somente atrelado à falta de algum sentido, à falta de algum membro. Ou então tem pessoas que falam “ah, eu  uso óculos, eu tenho miopia, então eu sou uma pessoa com deficiência”. E a verdade não é tão simples assim, não é tão restrito assim.

Então começando a falar, vamos começar então pelo conceito exatamente de pessoa com deficiência. O que define uma pessoa com deficiência. É claro que se eu fosse falar com o muitos detalhes, eu precisaria de horas e horas só para falar dos conceitos sociais, sobre essa palavra, sobre esse termo.

Mas o que a gente precisa entender, pra início de conversa é que a deficiência é somente uma das características que definem uma pessoa. Ela não é a única característica definidora daquele sujeito. E ela é um fenômeno social, porque ela se dá exatamente no encontro desse sujeito, dessa pessoa, com o entorno, com o ambiente, com a sociedade. É exatamente essa a definição da ONU.

Como vocês podem ver no slide o texto diz assim: segundo a ONU, são consideradas pessoas com deficiência aquelas que têm impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial os quais em interação com diversas barreiras podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas.

Então foi exatamente isso que eu falei, a deficiência é um fenômeno social muito complexo se dá nesse encontro que pode ser muitas vezes cheio de barreiras ou com menos barreiras. A partir do momento a  gente começa a pensar nisso, e a deficiência acontece exatamente nesse encontro não é somente uma questão ligada ao corpo da pessoa, ou aos sentidos, mas exatamente como este corpo e  como com essas habilidades essas funcionalidades pode ocupar e usufruir os espaços como qualquer outra pessoa que não tem esse impedimento.

E aí é muito importante também a gente entender a diferença de integração e de inclusão.

Eles são muito utilizados de uma forma quase como sinônimos, Mas eles têm uma diferença conceitual muito grande, muito importante, que na integração existe uma falsa ilusão de inclusão. Quando a gente está integrado, existe ainda um grupo separado, vamos dizer assim: um gueto, um grupo ou uma instituição. Que pode, em alguns momentos, fruir na sociedade como um todo, mas ainda assim separado de todos.

Só pra vocês entenderem o contexto maior, a gente partiu da exclusão, quando as pessoas com deficiência não eram consideradas pessoas, que poderiam e deveriam sobreviver, e aí eu tô falando de homens das cavernas, né? De gerações da história da humanidade, qualquer pessoa que nascesse fora do padrão não permaneceria viva, A gente passa então pra um momento de segregação, depois da exclusão vem a segregação. E somente com a Idade Média, em que as pessoas com deficiência ou pessoas que nascem fora do padrão eram permitidas elas continuariam a viver, mas separadas em locais na sociedade. Então O Corcunda de Notredame normalmente é um exemplo bem prático e didático.

Nesse momento de a segregação, a pessoa fica separada do convívio de todas as pessoas. Com o surgimento da Medicina começa o que a gente chama de modelo médico no entendimento da deficiência. Que é quando a medicina passa considerar a deficiência como uma doença, entre aspas, a ser curada. Ou é o mais “consertado”, fazer com que este corpo se aproxime o máximo possível do padrão considerado normal pra época.

E aí sim vem a integração, quando existem locais de reabilitação, escolas especiais, instituições que separam as pessoas, inclusive por deficiência, instituições para pessoas com deficiência intelectual, ou escolas especiais, enfim e aí a gente reúne todo mundo que é diferente no mesmo grupo, em certos momentos eles podem a partilhar da sociedade, mas ainda existe essa separação. 

Isso que é integração. Quando a gente chega na inclusão, tá todo mundo no mesmo espaço. Podendo usufruir com a mesma qualidade da mesma forma, de um jeito pleno e de um jeito muito mais humano e muito mais bacana.

E um outro conceito muito importante para todos entenderem aqui é exatamente “acessibilidade”. Acessibilidade basicamente é poder garantir o acesso a todas as pessoas e aí é muito importante lembrar e entender para todo o sempre, que acessibilidade não é um conceito que se aplica somente a pessoas com deficiência. Ela se aplica a todas as pessoas, inclusive pessoas com deficiência.

Fazer com que todas as pessoas, tenham deficiência ou não, possam acessar espaços, conteúdos, eventos, experiências, é exatamente o fazer com que esse objeto, essa experiência, seja mais acessível e mais inclusivo para todos. 

Temos muitas curiosidades sobre soluções que inicialmente foram criadas, a princípio para pessoas com deficiência, com o intuito inicial apenas de acessibilidade, mas que beneficia a todo mundo. O próprio e-mail é um desses exemplos. Ele foi criado para que um homem que tinha uma perda auditiva pudesse se comunicar com a sua esposa que também tinha uma perda auditiva. Ele não poderia usar o telefone e ele queria algo que fosse mais rápido do que um correio, e aí ele criou a base do que veio a ser o correio eletrônico, que hoje é o que a gente utiliza como e-mail todos os dias da nossa vida.

Então esse é só um exemplo bem prático de como muitas vezes funcionalidades e soluções criadas, pensando inicialmente em pessoas com deficiência, podem beneficiar a todos.

E um outro exemplo muito conhecido de todo mundo é a própria rampa. Apesar de ser um exemplo quase clichê, ele é muito utilizado, é muito prático para esse entendimento.

Todas as pessoas podem utilizar a rampa, entendendo que ela tem um formato correto e uma inclinação correta, mas não só pessoas em cadeira de rodas, né? Uma pessoa que esteja utilizando uma bengala, alguém com carrinho de bebê, ou uma mulher grávida, alguém com uma mochila pesada…

Muitas pessoas podem se utilizar do mesmo recurso. Que também pode servir para acessibilidade. Então lembre-se: acessibilidade se refere a todas as pessoas.

E quando a gente vai pensar nessa aplicação considerando um movimento de consumo,

Considerando o desenvolvimento de produto, o desenvolvimento de serviços, entendendo o seu público-alvo, é muito importante lembrar que existem pessoas com deficiência dentro do seu público-alvo seja qual foi o seu recorte, seja qual for o seu target.

Então é muito importante lembrar que não só as pessoas com deficiências são seu público-alvo, mas toda essa rede de indireta de familiares, amigos, colegas, cruches, enfim, toda uma rede de pessoas relacionadas a esse potencial consumidor também pode ser impactada no momento em que você vai desenvolver um produto mais ou menos acessível. E isso pode impactar a decisão desse grupo de pessoas.

“Mas Ana, qual é o tamanho desse grupo de pessoas? Será que realmente é um público em potencial e faz sentido para o meu planejamento estratégico?”

Será que é importante pensar nisso dentro da empresa?

A resposta é: sim. São muitas pessoas com deficiência no mundo e no Brasil e é uma parcela da população que acredito que vai ser muito relevante pro seu público alvo, pro seu planejamento de produto, de serviço, ou de marca. eu tenho alguns dados sobre o poder o poder de consumo de pessoas com deficiências no mundo Na verdade, primeiro o dado demográfico, segundo a ONU são mais de um bilhão de pessoas com algum tipo de deficiência ao redor do mundo. Em termos de potencial de consumo, a gente tem um público muito importante, muito relevante.

A Accenture fez um estudo recentemente e eles identificaram que a comunidade de pessoas com deficiência no mundo todo seria o equivalente à terceiro maior potência econômica com o equivalente a 8 trilhões de dólares por ano em faturamento. Então uma parcela extremamente importante, 8 trilhões de dólares. Só nos Estados Unidos esse valor passa a ser 490 Bilhões de Dólares.

Um outro um outro estudo feito pelo Instituto Americano de Pesquisas, o American Institute for Research, e o nome do relatório dessa pesquisa foi “o mercado oculto”, é realmente uma parcela da população que não tá sendo alcançada, Que ela quer ser bem atendida, quer poder consumir, quer poder acessar os locais e as marcas e as experiências e muitas vezes está sendo privada, está sendo impedida de exercer esse direito, exercer essa vontade por barreiras externas. Então vamos pensar em como a gente pode diminuir essas barreiras externas, para que todas as pessoas possam chegar até a sua marca, sua empresa, seu restaurante, sua casa

E existe uma outra pesquisa também que tá aqui no nosso slide, ela foi feita no Reino Unido. Lá o movimento das pessoas com deficiência é extremamente organizado e um grupo desse movimento que se define como We Are Purple, nós somos roxos em inglês, eles fizeram um estudo e publicaram um relatório e vários infográficos, exatamente também falando o potencial de consumo, o valor em dinheiro que os negócios perdiam anualmente por não serem acessíveis. E esse valor é, nada mais nada menos, do que dois bilhões de libras por mês

É um valor muito relevante para qualquer empresário, qualquer pessoa que esteja pensando em inserir acessibilidade no seu planejamento de negócio.

E lembrando, como eu falei, não são só as pessoas com deficiência, elas não existem sozinhas, e portanto o investimento em acessibilidade não beneficia somente a elas, mas as pessoas que se relacionam a elas, enfim, se relacionam com elas, sejam amigos, familiares… E um dos dados dessa pesquisa também se refere a isso: 75% das pessoas que responderam a pesquisa ou seus familiares, já saíram de algum estabelecimento, já saíram de algum lugar, pela falta de acessibilidade ou pela falta de atendimento.

E aí é muito importante a gente pensar na questão da reputação, o quanto essa experiência positiva ou negativa vai se espalhar entre as pessoas da própria comunidade, amigos, familiares e tudo mais…

Lembrando que esse público em potencial é extremamente relevante principalmente por todo esse desdobramento, né? Que ainda é possível a gente explorar.

E quando a gente vem para o Brasil, a situação também é similar. A parcela da população com deficiência,segundo o último IBGE de 2010, é de 23,9% da população. O que é o equivalente a 45 milhões de pessoas no Brasil. Isso é o equivalente quase à população da Argentina ou da Espanha. Então imagina toda essa parcela de pessoas, que compreende todas as deficiências, visual, auditiva, física, intelectual… Todas essas pessoas e seus amigos e seus familiares podem não estar sendo ainda tão bem atendidos quanto elas poderiam, em termos de serem reconhecidas como consumidoras da sua marca, da sua empresa, do seu serviço. 

Esse público em potencial aqui no Brasil também tem um poder aquisitivo equivalente a 5.3 milhões de dólares por mês. Esse dado é de 2010. E mais do que tudo, é mais do que, de novo entendendo a acessibilidade como um investimento, quando a gente se torna o nosso serviço, nosso produto mais acessível ele vai ser mais relevante não só para esse público, mas também pras pessoas que souberem disso, né? Então hoje em dia a gente tem um consumo consciente a cada vez mais forte, e as pessoas escolhem suas marcas a partir da cultura e do comportamento da empresa. 

Então quando ela investe em desenvolver um produto mais acessível, uma campanha mais acessível, ela tá beneficiando não só o consumidor com deficiência na ponta final, e também seus familiares e seus amigos, mas também trazendo uma vantagem para a própria empresa e impactando positivamente os seus outros formadores de opinião, ou stakeholders, a imprensa, e outras pessoas também. Ou seja, investir em acessibilidade, pensar em um consumo cada vez mais inclusivo é muito importante e muito positivo para todos.

É o que eu sempre falo: é um ganha-ganha-ganha. Todo mundo ganha nessa equação.

E lembrando que é a grande mudança de mentalidade uma das primeiras grandes mudanças de mentalidade para gente pensar na pessoa com deficiência como público-alvo é encarar a acessibilidade como um investimento. Muitas vezes as pessoas têm um certo receio uma certa barreira achando que a acessibilidade é muito caro e muito difícil, são muitas angústias e muitos medos, então a ideia é que nessa aula, a gente já tenha tirado uma boa parte das dúvidas trazendo um pouco mais informação e nas próximas vocês também possam ficar muito mais confortáveis com relação a esse tema, com relação à argumentação e principalmente com relação a mão na massa.

Como a gente pode de fato mudar atitudes para que a gente possa mudar o nosso entorno para que a gente possa mudar a sociedade e fazer com que ela seja cada vez mais acessível.

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