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Sonderycast #02: Burger King – O trabalho da Sondery que entrou para a história.

Sobre um fundo rosa e azul claro com semi-círculos brancos, azuis e rosas, há o texto "Burger King: o trabalho da Sondery que entrou para a história!" com um número "02" grande ao lado.


Neste episódio do Sonderycast, a Ana Clara Schneider, fundadora da Sondery, conta como foi fazer a consultoria de acessibilidade e inclusão do comercial do Burger King, que entrou para a história da publicidade brasileira ao ser o primeiro comercial com audiodescrição no canal principal de áudio da TV aberta brasileira. Demais, né? Confira esta história!

 

[Ana Clara]

Você sabe por que o comercial de Burger King “King em Dobro – Audiodescrição” fez história na publicidade brasileira? Eu sou a Ana Clara, fundadora da Sondery, e está começando mais um Sonderycast.

Hoje a gente vai contar um pouquinho do trabalho de consultoria de acessibilidade e inclusão que a gente fez, em 2019, para o comercial do Burger King, um trabalho da Agência DAVID.

E já respondendo a pergunta que todo mundo quer saber: este comercial fez história por ser o primeiro comercial a ter audiodescrição no canal principal de áudio na TV aberta brasileira. E já explicando, Audiodescrição, pra quem não sabe, é o recurso que traduz em áudio o que está visualmente aparecendo na tela. 

Tudo começou com a ideia de fazer um comercial com um personagem cego. E a Sondery foi contratada para garantir que esta representatividade fosse retratada de forma respeitosa, sem capacitismo, ou seja, sem estereótipos de pessoas com deficiência, utilizando termos corretos e tudo mais. E ali ficou claro pra gente que era preciso dar um passo a mais: uma propaganda que tinha um protagonista cego precisava ter audiodescrição, para que aquela representatividade fosse efetiva ao ser acessível para todas as pessoas com deficiência visual. A melhor parte começou quando a agência e o cliente abraçaram a ideia. 

E pra contar um pouco dos bastidores deste comercial, dos desafios e das conquistas, a gente convidou algumas pessoas: os consultores que trabalharam com a gente, a Rosa e o Edgar, a dupla responsável pela audiodescrição; o Eduardo, o personagem do vídeo, e o Leo, que hoje trabalha com a gente, mas na época foi pêgo de surpresa quando teve contato com o comercial pela primeira vez.

[Rosa Matsushita]

Eu sou a Rosa Matsushita, jornalista e audiodescritora. Fiz o roteiro de audiodescrição para o comercial do Burger King… foi uma experiência completamente nova, intensa e incrível.

Os primeiros dias foram difíceis, porque estávamos pisando num universo diferente… depois de um mês mexendo no roteiro, num vai e volta, troca uma palavra aqui, adiciona outra ali, o texto foi finalizado.

Depois veio a locução que foi realizada com muito cuidado.

Com o trabalho finalizado veio a notícia: a audiodescrição seria aberta, para todos ouvirem. Nem preciso dizer do orgulho e da felicidade que senti de fazer parte desta equipe.

Fazer com que este recurso seja conhecido e reconhecido é o que nós, profissionais da AD, almejamos… e este comercial nos abriu portas. Além de alcançar um público, que foi muito além do esperado, ele nos mostrou que é possível.

Parabéns ao Burger King por ser o primeiro a abrir um espaço para este recurso. E eu espero que outras empresas sigam pelo mesmo caminho.

[Edgar Jacques]

Oi, oi, eu sou o Edgar Jacques, eu sou consultor em audiodescrição. Nesse trabalho da Burger King, acho que a coisa mais legal que a gente conseguiu, bom, a gente conseguiu várias coisas legais, mas a coisa mais legal foi ter conseguido que eles colocassem a audiodescrição no canal principal de áudio. Pra mim isso é muito importante; é muito relevante.

A audiodescrição sempre tem esse papel escondido, né? “Ah, a gente vai fazer, mas é pra um lugar específico”. E é sempre muito importante quando a AD ou a acessibilidade tá ali no espaço pra todo mundo. Isso é muito impactante, é muito significativo. Então a Sondery conseguiu aí um grande feito, na minha opinião, que foi colocar a AD pra todo mundo ouvir.

E aí teve um monte de questões até que chegasse nesse pensamento. Eu fiquei muito impressionado, porque é muita gente, né, falando sobre um assunto. E às vezes falando de uma coisa que não faz ideia do que seja, no caso da AD. E aí a gente explicando coisas ali na reunião, e aí eles tentando encontrar caminhos para que chegasse naquilo que eles queriam que fosse. Acho que chegamos a um denominador comum interessante, Ah, foi uma experiência incrível, cresci muito assim, ouvindo, argumentando, tendo que argumentar com gente que sabe tanto sobre o que tá fazendo – os publicitários ali sacam muito de publicidade, e não de acessibilidade. E daí eu precisei me exercitar e falar “aqui não dá pra ceder, não é possível”… 

E, ah, conheci muita gente legal. E acho que isso também é um bônus, né? Conhecer gente, gente de mercados diferentes, lugares diferentes. Foi uma grande experiência. Valeu Sondery, é isso, tâmo juntos!

[Eduardo]

Meu nome é Eduardo, eu trabalho num órgão público, moro aqui em São Paulo e fui escolhido como personagem para a gravação do comercial do Burger King.

Eu fiquei muito feliz de poder participar do comercial e eu falo que foi muita sorte, porque eu tava no meu trabalho e o computador travou e, esperando reiniciar o que você faz? Eu peguei o celular. Eu vi no Facebook que eles estavam recrutando uma pessoa que fosse deficiente visual para gravar um comercial. Eu falei “ah, vamos ver o que que isso aí dá, né?”.

Achei que não ia dar nada e aí um domingo à tarde o pessoal da produtora me pediu pra encaminhar um vídeo. E eu nunca tinha gravado um vídeo. Eu moro sozinho e tal. E daí eu falei “bom, vamo tentar”. Aí me falaram “Não, ficou legal, mas você saiu com o dedo na câmera”. Eu falei “ih, começou, né?”. Mas aí depois deu certo, me chamaram pra entrevista. No dia da entrevista, eu fiquei bem à vontade, fiz algumas piadas dessa coisa do “só acredito vendo”, acho que o pessoal gostou e tal. 

E aí quando chegou no dia da gravação mesmo, eu fiquei um pouco mais nervoso, assim, porque é diferente, né? Você tá numa entrevista e depois eles explicaram “ó, tem uma câmera ali, outra ali, uma na sua frente…”, então várias câmeras, né? Eu no começo não tava muito espontâneo não, então foi uma coisa mais difícil mesmo. E aí o pessoal falou “Ah, lembra que você falou tal coisa na entrevista e tal?” e aí eu fui me soltando, né?

E acabou que eu fui selecionado e eu nem fiquei sabendo. Eu só fiquei sabendo quando o pessoal começou a me mandar mensagem no celular aqui falando “olha, eu vi teu comercial na TV, é você mesmo?” e tal. E teve uma repercussão muito grande, né? Algumas pessoas na rua me perguntavam “não é você do comercial?”, o pessoal até confundia qual que era a rede de fast food. 

Mas teve uma repercussão bem legal e essa questão da audiodescrição na TV aberta também, o pessoal que é do ramo principalmente achou bem legal, né? E muita gente me perguntava o que era também. Então eu fiquei bastante feliz, assim, tanto pela repercussão como por poder participar desse projeto. 

[Leonardo Spinola]

Oi pessoal, tudo bem? Meu nome é Leonardo, eu sou consultor aqui na Sondery, e foi engraçada essa história: a primeira vez que eu vi esse comercial eu estava no YouTube assistindo qualquer vídeo pra me distrair e apareceu o comercial, aquelas propagandas clássicas que você pula depois de cinco segundos, só que logo que apareceu, começou a audiodescrição. E eu fiquei de olho brilhando. Eu olhei praquilo e pensei “nossa, eu preciso que todo comercial seja assim”. Eu fiquei maravilhado. Assisti depois, fui atrás do comercial pra assistir de novo, ficou me aparecendo toda hora por causa disso, por causa de algoritmo, foi até engraçado. E cada vez que eu assistia eu ficava “eu preciso disso pra minha vida”. 

E eu não sabia que esse comercial era da Sondery, eu achei que Burger King fez um negócio legal, pô, que massa. E bem depois, uns bons tempos depois, eu acabei, enfim, encontrando a Sondery pela internet, entrei em contato e comecei a conversar com a Ana e a gente… ela me contou um pouco da história da empresa e falou “ah, não, você já viu aquele comercial de Burger King? Foi a gente que ajudou a fazer, organizou a parte toda…”, e eu fiquei “nossa, que fantástico, que incrível”. E foi inclusive um dos motivos que me fizeram querer entrar para o time da Sondery, justamente por causa dessa preocupação que eles têm em eliminar as exclusões e fazer com que todo mundo consiga ter acesso à mídia, a produtos e serviços. E isso fez brilhar o olho ainda mais pra esse tema que me é tão querido.

[Ana Clara]

Pois é, ouvindo todos estes depoimentos, já deu pra entender a importância deste comercial tanto para a publicidade quanto para a acessibilidade, ao sermos pioneiros na utilização do recurso de audiodescrição no canal principal de áudio. A repercussão entre as comunidades de pessoas com deficiência foi super positiva e todo mundo veio comentar com a gente, mesmo quem nem sabia que a gente tinha feito parte do projeto como consultoria de acessibilidade.

Os principais sites e revistas de publicidade e marketing do Brasil e do mundo, como Meio e Mensagem, Adweek, Fabnews, Adage, ThinkTank… disseram que o comercial de Burger King era pioneiro e desbravava novos territórios, tanto pela representatividade de trazer um protagonista cego, quanto pelo recurso de audiodescrição.

Mas quando me perguntam qual o resultado mais bacana que este trabalho trouxe, o resultado mais palpável de todos, foram as inúmeras mensagens que nós recebemos de pessoas cegas nos perguntando sobre o que era a tal coroa de papelão. Antes do comercial, muitas pessoas cegas não faziam ideia de que a coroa de papelão, um dos maiores símbolos do Burger King, existia. E depois, várias delas começaram a ir às lojas e pedir pelas coroas, para pegar nas mãos, saber o que era. Pra gente, essa foi a maior prova de que todos os comerciais deveriam ter os recursos de acessibilidade e que só assim a mensagem da marca será realmente passada para todas as pessoas de forma plena, como foi concebida pelos publicitários com tanto cuidado e esmero criativo.

Nós temos um carinho muito grande por este trabalho, que abriu muitas portas para a Sondery e também para a acessibilidade como um todo dentro do universo da publicidade. E esperamos que mais marcas invistam cada vez mais em acessibilidade, para que todos possam ter acesso tanto a seus comerciais como também a produtos, lojas e serviços, né?

E ficamos por aqui no nosso segundo episódio do Sonderycast, esperamos que tenham gostado e até a próxima.

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