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Os influenciadores e o poder da inclusão – para o bem e para o mal

Montagem de duas fotos, a esquerda Whindersson e Luciano Huck no palco do programa. Luciano está em pé falando ao microfone e Whindersson está a sua esquerda com as mãos no arem frente ao corpo, com o quadril enclinado para o lado e joelhos levemente flexionados. Na foto da direita, Whindersson está de frente pra câmera, sem camisa, fazendo o sinal de "desculpa" em libras. A mão fechada em frente ao queixo, com o dedão e o dedinho esticados.

Em meio a Copa e uma avalanche de notícias, memes e polêmicas, pudemos perceber que a velocidade de resposta do mundo online para o offline está cada vez mais instantânea. Isso vale tanto para o Neymar caindo, como para youtuber fazendo besteira. Cocielo? Também, mas estamos aqui pra falar do Whindersson Nunes.

Antes de dar seguimento ao texto, queremos deixar claro que esse não é um comparativo relacionado as causas em si, e sim sobre a sua repercussão. Preconceito é um assunto profundo que não se “resolve” num texto. Esse post é apenas uma análise e convite à reflexão focado no caso do Whindersson com a Libras. Não estamos analisando o Cocielo. Preconceito é crime. Racismo é crime. As pessoas que tem atitudes racistas devem ser punidas sim. 

Não sabe do que estamos falando? Entenda o caso:

Sábado, dia 30. 

Descrição resumida do vídeo: no palco do Caldeirão do Huck, Whindersson e Luciano estão lado a lado e Whindersson faz gestos aleatórios enquanto Luciano fala. 

Em um quadro patrocinado pela Toddy, o youtuber Whindersson Nunes fez uma apresentação, uma espécie de stand-up com comentários sobre generalidades, conversando com Luciano Huck. No fim do quadro, ao perceber que pelo enquadramento da câmera ficava bem ao lado de Luciano, Whindersson começou a gesticular fingindo interpretar o apresentador.

Justamente neste dia, impulsionado pela Copa, o Caldeirão do Huck teve a maior audiência desde 2010. E lembrando (para quem não conhece) que Whindersson é o cara que tem o segundo maior canal do youtube com 30MM de assinantes. Se estamos falando de cobertura, esses dois juntos falam praticamente para o Brasil todo.

Olha o tamanho da responsabilidade. Ou no caso, irresponsabilidade.

Imaginem vocês então a quantas pessoas não chegou esta informação com abordagem completamente errada, fazendo deboche de algo que foi (e ainda é) uma luta diária na vida dos surdos usuários de libras: o desconhecimento da Libras por parte da sociedade. 

Domingo, dia 1.

A comunidade surda começa a se manifestar, principalmente via Instagram e Youtube, chamando a atenção, criticando o que até então o youtuber achava que era “só uma brincadeira”. Com razão, já que isso reforça uma desqualificação; desvalorização não só na língua como idioma, como também da profissão dos intérpretes.

O vídeo do Canal Visurdo (abaixo) resume bem o posicionamento da comunidade e inclusive mostra outros exemplos de situações onde rolaram um FAKE LIBRAS, seja por “piada” ou por má índole de seres humanos horríveis (eventos oficiais, tribunal, etc).

Percebem como é muito ruim espalhar esse tipo de fingimento? Ao invés de disseminar belas traduções, são esses os “profissionais” que viralizam e enfraquecem a luta da comunidade. Pode ser que pessoas com pouco ou nenhum contato com língua de sinais guardem somente essa informação ou essa lembrança relacionada ao tema e numa próxima vez que se depararem com um intérprete podem pensar “ah, é tudo mentira”.

Segunda, dia 2.

Após receber todas as mensagens da comunidade surda e do público em geral – inclusive de outros influenciadores e youtubers como Kitana, Gabriel Isaac, Nathalia Silva e mesmo a Mari Torquatto – que se identificou ou sensibilizou com a causa -, Whindersson então gravou uma série de vídeos no stories explicando que realmente não tinha conhecimento da seriedade do caso.

Descrição resumida do vídeo: Whindersson está com uma camiseta amarela e grava o vídeo com o celular enquanto vai andando por sua casa.

Terça, dia 3.

Felizmente, após ele ter falado que estava aberto a aprender Libras, certamente foi abordado por muitas pessoas e a Luana já tratou de começar a ensiná-lo. E vale reforçar que é ótimo que ele tenha aprendido/esteja aprendendo com uma surda. Foi com o vídeo a seguir que ele mostrou para os seguidores que estava se esforçando para aprender.

Descrição resumida do vídeo: Whindersson está de frente pra câmera com um moleton vinho e fala sinalizando “Bom dia, que Deus abençôe vocês” 

Quinta, dia 5.

No dia seguinte, ao anunciar um vídeo novo, Whindersson começou sinalizando um “boa tarde” e agradecendo a Luana por estar ensinando Libras a ele.

Descrição resumida do vídeo: Whindersson está de frente pra câmera, falando sobre seu novo vídeo e ele sinaliza em libras “Boa Tarde” 

Há males que vem para bem? – Desconhecimento x Desinteresse

Apesar dos pesares, esse foi primeiro contato de Whindersson com o universo da acessibilidade. E, cá entre nós, que bom que ele aconteceu. O meu primeiro contato foi num museu com uma representação tátil de uma pintura – que já contei aqui – enquanto o dele foi errando ao vivo na Globo. Mas não podemos deixar de encarar o fato como uma oportunidade de retorno positivo, que vai depender inteiramente de como ele levará isso daqui pra frente.

No seu primeiro vídeo após o ocorrido, que coincidentemente (ou não) era sobre outra lígua, ele além de contar sobre o caso do Huck colocou alguns sinais na sua fala, incluindo a apresentação padrão do canal “Eai galerinha que assiste meu canal, tudo bom com vocês?” com o sinal de “assistir” e “bom”.

Se isso vai continuar nos próximos vídeos? Temos que esperar pra ver.

Pode ser que ele desencane? Sim.

Pode ser que ele continue e transforme seu canal e a percepção das pessoas perante a libras? Sim.

Esse vai ser o ponto crucial para entendermos a diferença entre o desconhecimento e o desinteresse, que acontece muitas vezes com marcas e empresas. Não se envolver por falta de contato, e não se envolver por falta de visão, mesmo após ter o contato.

O que nos leva também a outro questionamento. Se por um lado, as marcas querem se distanciar de influenciadores que promovem atitudes preconceituosas, como elas reagirão àqueles que estão promovendo a inclusão?

O que você acha sobre o assunto? Deixe nos comentários!

E por fim, você também tem um canal no YouTube e quer torná-lo acessível? Lembrando que Libras não é o único recurso de acessibilidade audiovisual, também precisamos da audiodescrição e das legendas. Entre em contato com a gente!

 

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