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O Papel do Consultor em Audiodescrição

Um livro aberto apoiado em pé em uma superfície branca, as páginas estão dobradas de maneira a formarem a palavra Audio.

Uma das grandes dificuldades de um roteirista iniciante em audiodescrição é compreender que grande parte do que ele entende de uma imagem vista vem do seu poder de dedução, um poder que se desenvolveu ao longo de uma vida inteira. Um poder, aliás, que uma pessoa cega ou com baixa visão também tem, mas que obviamente está pautado nos outros sentidos que ela eventualmente use para se comunicar com o mundo.

Quando o roteirista finalmente consegue transformar em palavra o que ele vê, e não o que ele conclui do que vê, ele começa a fazer a tradução entre linguagens que vai possibilitar a inserção da pessoa com deficiência visual no universo das imagens. Obviamente, a “descontaminação” completa da palavra daquilo que é interpretação é humanamente impossível. O que significa que muitas vezes um texto construído por um vidente fará sentido apenas se confrontado com o evento visual correspondente, e é nesse momento em que se faz imprescindível a participação de um consultor com deficiência visual na construção de um roteiro audiodescritivo.

Observando, toscamente, pelo prisma da Física já podemos ter um vislumbre de como esse processo de construção imagética se dá. Uma pessoa que enxerga constrói suas imagens a partir do olho, órgão que é ativado por estímulos luminosos. A pessoa que faz uso dos ouvidos para alcançar suas imagens, logicamente, o faz com o auxílio do som. Portanto, feita a comparação fica claro que imagens construídas a partir da luz se formam de maneira mais rápida tendo em vista a velocidade do seu veículo. Com isso em mente, podemos concluir que um texto pensado para ser ouvido deve contemplar algumas singularidades que respeitem o processo de imaginação que é inevitavelmente mais lento.

Algumas técnicas podem e devem ser empregadas na construção desse texto, por isso uma pessoa que se proponha a ser consultora deve obrigatoriamente ter contato com elas. Não bastando, desse modo, ser pessoa com deficiência visual. O consultor deve ter ciência de que em seu trabalho ele deve buscar a universalidade de entendimento, libertando-se do que ele próprio acha interessante baseado em seu gosto pessoal. O consultor deve compreender que há, entre seus pares enquanto pessoas “não enxergantes”, uma gama infinita de personalidades. E para que se caminhe nessa direção, o norte é sempre a obra ou produto a ser descrito. Em outras palavras, é a obra ou o produto que vai escolher o seu público alvo. A audiodescrição não é responsável por fazer essa determinação no caso de querer explicar qualquer coisa, e o consultor deve assegurar que o texto produzido para tanto mantenha-se dentro desse objetivo.

Um roteiro de audiodescrição pode ser construído sem a consultoria, mas a qualidade dele será questionável e a eficácia em muitos momentos pode ser duvidosa. Quando o roteiro passa por um consultor, os riscos da AD não ser eficiente caem drasticamente. Sem falar na credibilidade social provocada pela assinatura de uma pessoa cega ou com baixa visão presente ao fim de uma audiodescrição. Ou seja: o consumidor tende a aceitar mais facilmente uma descrição que foi validada por alguém que também não enxerga. Assim, ele duvida menos das imagens que ele venha a formar em sua cabeça e torna-se um cliente mais confiante.

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