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LINK: um evento sobre acessibilidade na internet e uma celebração da diversidade e da inclusão

A foto de duas pessoas ao lado do personagem virtual Hugo, em frente a um fundo roxo do evento Link. Na foto estão, da esquerda para a direita: Rafael Duarte, um homem branco de cabelos e barba castanhos, usando um casaco preto e camiseta laranja; em uma das mãos ele segura uma placa escrito “Informação é para todos” e com a outra faz o sinal de “amor” em Libras. Hugo, uma versão impressa do personagem virtual, um homem branco com óculos preto, camisa branca, gravata azul e calça jeans que faz o sinal de “amor” com a mão. Ana Clara, uma mulher branca, de cabelos cacheados raspados na lateral, usa um vestido vermelho estampado e está sorrindo e segurando uma placa que diz “mais empatia, por favor”.

Eu já fui em muitos eventos. Sério, nos últimos 17 anos eu participei de centenas de eventos de todos os tipos e sobre todos os assuntos. A maioria foi de comunicação e gestão de pessoas, mas também me aventurei por programação, tecnologia, culinária… e nunca antes eu tinha visto tamanha diversidade (não só de público, mas de palestrantes).

E não falo só de pessoas com deficiência, já que esta deveria ser uma diversidade bastante óbvia (ainda que não seja sempre a realidade) em um evento de acessibilidade, né? Falo da predominância de mulheres no palco, liderando os painéis de discussão, mostrando suas realizações em grandes empresas como Microsoft e Magazine Luiza. Foi bonito de ver.

Fora isso, o óbvio: surdos, cegos e loucos por todos os lados. Gente conversando em Libras no coffee break, um surdo moderando um dos painéis (onde dois cegos participaram), isso tudo sem contar a Angel, uma cão guia adorável que ficava quietinha ao lado dos pés do seu humano e vez ou outra parecia estar olhando pra gente. “Fofa”, Pricyla Laham, da Microsoft, soltou no meio da sua palestra, não resistindo aos encantos da cadela.

Tá, mas vamos falar de conteúdo, porque o Link não foi um desfile de diversidade. Ele foi um baita evento bacana de acessibilidade na web. E quem participou – ou assistiu ao vivo pela internet – pôde acompanhar algumas das pessoas mais incríveis desta área compartilhando conhecimentos, histórias e novidades.

Primeiro bloco: como e porque deixar a internet acessível

As primeiras duas horas do Link foram as mais informativas em relação à acessibilidade na web. Foi o momento de entender porque a internet precisa ser acessível (seja por causa das leis, das pessoas com deficiência, da melhoria do conteúdo pra todo mundo, da vantagem estratégica para as empresas…). E também foi a hora de aprender como fazer isso.

Ronaldo Tenório, fundador da Hand Talk, abriu o evento mostrando como as inovações brasileiras em acessibilidade estão ganhando espaço (e prêmios) não só no nosso país, mas no mundo inteiro. Seguido por Simone Freire, do Movimento Web para Todos, que deu aquela pincelada sobre a importância da acessibilidade digital.

Com o terreno preparado, foi a vez de começar o painel As Boas Práticas de Acessibilidade nos Sites, uma aula do que fazer e não fazer ao criar páginas na internet. A fundadora da Sondery, Ana Clara, Schneider, conduziu a discussão com perguntas próprias e do público para os experientes profissionais da área de desenvolvimento de sites Thabata Marchi (RH Software), William Daflita (Espiral Interativa) e Reinaldo Ferraz (W3C Brasil).

Alguns assuntos debatidos por esse time:

Os mitos da acessibilidade: investir em soluções acessíveis na web não sai caro, o que fica caro é remendar sites que originalmente não foram pensados para serem acessíveis. Por isso, pensem na acessibilidade no começo do projeto.

Não crie barreiras onde não existem: Reinaldo Ferraz ressaltou que a internet nasceu acessível, mas as pessoas foram criando as barreiras na tentativa de “inovar” os seus sites.

Siga as diretrizes de acessibilidade: é claro que com um representante do W3C no painel ia ser difícil não ressaltar a importância de seguir as recomendações da WCAG (do inglês Web Content Accessibility Guidelines). Vale dizer que a resposta para muitas das perguntas feitas pelo público para o painel começavam com “no WCAG fala como fazer isso…”. Portanto, se você for criar um projeto na internet, não deixe de consultar o WCAG.

Uma história de empatia e inclusão

Ainda na parte da manhã começou o que eu considero o segundo bloco do evento, com a palestra “Mais empatia, por favor”, da Sabine Schaade. Para quem ainda não conhece a história dela, vale a pena assistir aos seus vídeos no Youtube, onde ela conta – assim como na palestra – como foi todo o processo de descobrir que seu filho era surdo. Um relato que começa pelo preconceito e capacitismo e vai terminar no amor e na acessibilidade (viva a Libras!). <3

A hierarquia da acessibilidade em um projeto

A Thalita Pagani entrou logo depois do intervalo do almoço e já chegou destacando que as diretrizes de acessibilidade na internet são voltadas para o conteúdo. “Acessibilidade digital é sobre conteúdo”, dizia um de seus slides, mostrando a importância de deixar textos, títulos, vídeos, imagens e design visual acessíveis para todo mundo na internet.

Ela também dedicou uma parte da sua palestra para mostrar o papel de cada profissional do time na acessibilidade (claro que esse é um dever de todos).

Gerente de projeto: precisa garantir que os requisitos de acessibilidade serão realizados no projeto e encorajar o time a levar em conta essas questões.

Analista de UX: vai levantar as necessidades de usuários com deficiência, adicionar acessibilidade como critério de aceitação e especificar quais serão os requisitos de acessibilidade a serem realizados pela equipe de design e desenvolvimento.

Equipe de Marketing: criar a campanha com uma linguagem compreensível, garantir que a marca use combinação de cores adequadas e produzir conteúdos acessíveis para mídias sociais.

Redatores, revisores e assessores de comunicação: garantir que os textos sejam bem escritos e estruturados, descrever as imagens usadas no site, blogs e redes sociais e definir texto de links para que sejam acessíveis.

Designer de interface e UX: garantir que o produto seja projetado para ser de fácil uso, que os elementos visuais sejam acessíveis em tamanho, cor e disposição e realizar testes com usuários com deficiência.

Desenvolvedores front-end e back-end: garantem que o código seja escrito de forma acessível, fazem o site acessível via teclado e com uso de leitor de telas, verificam a acessibilidade usando ferramentas automatizadas e garantem o bom desempenho do site.

Analistas de testes: realizam os testes básicos de acessibilidade e garantem que os requisitos de acessibilidade foram implementados.

A inclusão do consumidor com deficiência

Bom, lembra que eu disse que o evento teve um moderador surdo? Isso aconteceu no painel Os Direitos das Pessoas com Deficiência na Internet.

O arquiteto Alexandre Ohkawa conduziu a discussão que teve a participação da Bárbara Simão, do Instituto Brasileiro de Direito Constitucional, falando sobre os direitos dos consumidores com deficiência na internet, Fabíola Calixto e Sidney Tobias, da Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência na cidade de São Paulo, falando sobre o recém criado selo de acessibilidade para sites e Gustavo Torniero, jornalista e assessor de imprensa na Organização Nacional de Cegos do Brasil.

Aqui na Sondery a gente sempre ressalta a importância de percebermos a pessoa com deficiência enquanto consumidor (pessoa com direitos, com dinheiro, com poder de decisão e, claro, com desejos). Portanto, nada mais justo do que considerar o investimento em acessibilidade como uma forma de aumentar o público alvo de uma empresa, né?

Foi muito bacana ver que a Prefeitura de São Paulo, com o lançamento do selo de acessibilidade digital, e que o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor estão trabalhando para garantir que (por bem ou por mal) as empresas invistam em acessibilidade em seus sites. São iniciativas recentes, mas que merecem ser acompanhadas de perto daqui pra frente.

Último bloco: a acessibilidade DENTRO das empresas

Tá, muito se falou em acessibilidade para o público, os clientes e os consumidores… mas e os colaboradores das empresas? A última parte do Link foi justamente para abordar como a inclusão, quando vem de dentro para fora e conta com pessoas com deficiência no processo, é muito mais fácil e possivelmente mais bem-feita.

E não estamos falando de empresas pequenas não. Participaram do painel a Claudiene Mortmer , do Bradesco, Milena Delfini, do Magazine Luiza e Alexandre Theodoro, do Facebook, com a moderação da Ivone Santana, ex-Magazine Luiza e hoje do Instituto Modo Parités.

A discussão girou em torno das barreiras da inclusão e como estes profissionais trabalharam para vencê-las. Foi unânime a ideia de que é preciso começar o quanto antes, mesmo que a empresa ainda não seja completamente acessível. Isso porque se você integrar pessoas com deficiência na sua equipe, elas poderão te ajudar a encontrar o melhor caminho para a acessibilidade.

“Eu tô longe de dizer que no facebook a gente está no mundo ideal, a gente tem um milhão de desafios pra poder caminhar nesse sentido. Mas uma coisa que eu me sinto muito confortável é que todo mundo tem voz, e quando eu tô em uma reunião e uma pessoa com baixa visão fala ‘poxa, será que a gente pode aumentar a fonte para que eu possa ler’, isso é lindo”, ressalta Alexandre.

Por último, depois do painel e para fechar o Link, a Priscyla Laham, da Microsoft Brasil, subiu ao palco para falar sobre como a empresa está mudando o seu quadro de funcionários para valorizar cada vez mais a diversidade. Ela ressaltou como eles trabalham para que todos tenham as mesmas oportunidades, não necessariamente com as mesmas condições.

A Priscyla mostrou que a Microsoft pratica a inclusão da diversidade de forma intencional, eles vão atrás das mulheres, dos negros e das pessoas com deficiência qualificadas, para aumentar a diversidade de pensamento na empresa. Segundo ela, esta é uma vantagem competitiva que está ajudando a Microsoft a crescer ainda mais.

Foi muito bacana assistir à palestra dela, pois um dos primeiros trabalhos da Sondery foi justamente para a equipe de recrutamento e seleção da Microsoft. Na época, eles queriam entender quem eram as pessoas com deficiência que estavam buscando oportunidades de trabalho e como elas faziam isso, por quais canais e meios. E, para obter estas respostas, a nós fizemos uma pesquisa supercompleta para eles.

Ah, e claro que nós aproveitamos para conversar com a Priscyla sobre o Adaptive Controller, que já falamos aqui no blog, e ela nos prometeu que a equipe da Xbox aqui no Brasil está trabalhando para trazer o controle aqui para o Brasil o quanto antes. Legal, né?

Conclusão

O Link foi um baita evento. Foi uma verdadeira lição de como organizar um discurso seguindo o lema “nothing about us without us” (nada sobre nós sem nós). E nós estamos muito felizes não só de termos participado, mas também de termos a Hand Talk como nossa parceira. Empresas que trabalham para fomentar a cultura da acessibilidade da maneira correta, incluindo quem precisa ser incluído, acessibilizando todo o conteúdo e trabalhando por um mundo melhor.

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